domingo, 1 de março de 2009

Crianças (nem tanto)

Esse ano eu me decidi por ler mais. E escolhi como ponto de partida a literatura brasileira. Nunca fui muito chegada a ela, sempre preferi romances históricos ou épicos, ficção fantástica, ou mesmo (porque não dizer?) chick-lit, os famosos livros "mulherzinha". Ok, é bom parar por aqui essa enumeração.
Hoje escolhi falar de Jorge Amado, mas queria deixar de lado generalizações. Jorge Amado me mostrou como os autores são repetitivos. Para os mais aplicados nas aulas de Literatura, Jorge Amado é um romancista baiano, da década de 30, marcadamente regionalista que adora dois temas: cacau e mulher.
Mas hoje, o livro escolhido foge um pouco desses prognósticos. É Capitães da Areia. E isso não significa que o livro deixe de falar de mulher, de citar o cacau ou de se passar na Bahia, de todos os santos e orixás possíveis
O livro é de 1937 e traz - como sempre - a ironia fina no tratamento da política, os coronéis, as mulheres valentes e os cabras destemidos tão característicos do autor. Mas os de agora são crianças. Crianças abandonadas, que desde muito cedo conhecem cada canto da cidade, vivem de pequenos furtos e dormem num trapiche. Crianças que encontram em outra criança - Dora, uma mulher no grupo - a mãe, a irmã, a noiva e e a esposa. Crianças que ouvem o chamado de Deus, do cangaço ou da revolução. Sertanejos e da cidade, elegantes e esfarrapados, coxos e míopes, devotos e ateus, que se unem por uma amizade nunca ameaçada pela traição. Crianças que queriam um pouco mais de carinnho e não a solitária de um reformatório. Que ao encontrar carinho, mais se alimentam de ódio. Crianças felizes rodando no carrossel.
É das aventuras e desventuras dessas temidas crianças que esse livro é feito. E para não cair em contradição comig mesma já nos próximos, digo, por enquanto que é melhor livro de Jorge Amado que já li. Senão seria abusar demais.